Evento realizado em Manaus debate monitoramento do ar, novas tecnologias e atuação em rede

2º Encontro Monitoramento do Ar

Nos dias 30 e 31 de outubro de 2024, Manaus foi palco do 2º encontro “Monitoramento do Ar na Amazônia”, um evento essencial para fortalecer as ações de monitoramento ambiental na região. Organizado pelo Instituto Ar, Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), o encontro reuniu especialistas, gestores públicos, organizações da sociedade civil e representantes de universidades, todos com um objetivo comum: garantir um ar mais limpo e seguro para as populações amazônicas.

Durante o evento, o público participou de uma rica troca de experiências, com painéis que abordaram diferentes estratégias e perspectivas para o monitoramento da qualidade do ar. Desde visões de gestores públicos até iniciativas de universidades e projetos comunitários, o evento promoveu um espaço dinâmico para a partilha de ideias e soluções práticas.

Coalizão Respira Amazônia e expansão de redes

O encontro também foi marcado pela apresentação oficial da Coalizão Respira Amazônia, uma iniciativa que nasceu como fruto do 1º encontro “Monitoramento do Ar na Amazônia”, realizado em Brasília em 2023. A Coalizão é uma iniciativa inovadora que reúne entidades públicas, privadas e organizações da sociedade civil para fomentar o monitoramento da qualidade do ar na Amazônia Legal, região que enfrenta uma grave falta de dados e informações localizadas devido à escassez de equipamentos de referência. 

Focada no uso de sensores de baixo custo e integração com outras tecnologias, o objetivo geral da Coalizão Respira Amazônia é estimular a ampliação do monitoramento, especialmente em áreas de difícil acesso, onde a infraestrutura é limitada. Para incentivar políticas ambientais mais eficazes e fortalecer a resposta aos desafios climáticos, a iniciativa busca ampliar a conscientização e a capacidade de ação na região, protegendo a saúde pública e o meio ambiente.

Ao longo do ano de 2024 o grupo se consolidou como uma rede colaborativa de apoio ao monitoramento do ar na região. No encontro deste ano, o Instituto Ar, que articula a Coalizão, representado por Martina Horvath, lançou o site da rede, um canal que centraliza informações, avanços e próximas etapas desta iniciativa. 

Durante o evento, seus membros traçaram diretrizes para integrar o monitoramento do ar às políticas de saúde e meio ambiente na COP 30, que ocorrerá em Belém em 2025. 

Lançamento do Policy Brief da Coalizão Respira Amazônia

Uma das principais novidades do encontro foi o lançamento do policy brief  “Desafios e perspectivas do monitoramento da qualidade do ar na Amazônia Legal: uma visão intergrada entre tecnologias, contextos socioambientais e políticas públicas” elaborado pela Coalizão Respira Amazônia, com apoio do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. O documento é estratégico e foi criado para sensibilizar governantes e atores-chave sobre a importância do monitoramento do ar com sensores de baixo custo. O policy brief destaca as vantagens dessa tecnologia acessível e apresenta uma proposta de integração entre diferentes sistemas de monitoramento, com o objetivo de alcançar uma gestão ambiental mais eficaz e abrangente na Amazônia. Esse instrumento é um marco importante para o envolvimento de autoridades e gestores públicos, mostrando como o monitoramento acessível pode transformar a gestão da qualidade do ar na região.

Painéis e debates de alto nível

O evento contou com painéis de alto nível, incluindo a primeira mesa temática, onde autoridades como o Secretário Nacional de Meio Ambiente Urbano e Qualidade Ambiental, Adalberto Maluf; a Secretária Executiva Adjunta de Gestão Ambiental do Amazonas, Fabrícia Arruda; e Augusto Zany, diretor de Planejamento, Emergências em Saúde Pública e Ações Estratégicas da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas discutiram os desafios e oportunidades para implementar o monitoramento do ar de forma estratégica levando em conta o que órgãos ambientais podem fazer sobre o tema discutido e quais são suas maiores necessidades e ações na atualidade. 

Representando a sociedade civil, Filipe Viegas de Arruda, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, apresentou dados de diversas plataformas que correlacionam informações sobre fogo e qualidade do ar. Ele também destacou a importância das parcerias com comunidades tradicionais para a instalação e manutenção de sensores de baixo custo e a necessidade de ações que salvaguardem a saúde e o modo de vida dessas comunidades, reforçando o papel dessas colaborações para o sucesso do monitoramento do ar.

A participação dos Órgãos Ambientais Estaduais do Maranhão, Pará e Mato Grosso, representados por Hinayara Rodrigues Barros Rodrigues; José Willame da Costa Medeiros e Sérgio Batista de Figueiredo respectivamente, foi relevante para ilustrar o progresso das Políticas Públicas de Gestão da Qualidade do Ar nesses estados. Os avanços apresentados demonstram o empenho dos servidores públicos, mas também evidenciam a necessidade de fortalecer ainda mais o monitoramento do ar de forma estratégica e integrada, garantindo que cada estado desenvolva iniciativas sustentáveis e eficazes em seus territórios.

Os professores universitários Antonio Willian Flores Melo, da Universidade Federal do Acre; Sílvia Fernanda Mardegan, da Universidade Federal do Pará; e Rodrigo Augusto Ferreira de Souza, da Universidade do Estado do Amazonas, apresentaram projetos distintos que incluem iniciativas de extensão com a participação ativa de alunos e docentes. As apresentações destacaram o papel fundamental das universidades na formação de uma rede colaborativa para o monitoramento da qualidade do ar, mostrando que a integração entre instituições acadêmicas e órgãos públicos é essencial para uma ação mais estratégica e eficaz na gestão da qualidade do ar. Edson Kambeba, ativista indígena e morador de Coari, trouxe uma perspetiva local sobre o impacto da má qualidade do ar, complementando as discussões com um ponto de vista prático e vivencial.

Tecnologia e inovação para a qualidade do ar

As apresentações sobre o uso de sensores de baixo custo, lideradas por especialistas como Tailine Corrêa dos Santos, Consultora Nacional da Coalizão Clima e Ar Limpo (CCAC PNUMA)  evidenciaram a importância de integrar diferentes tecnologias de monitoramento para viabilizar políticas públicas eficazes. Foi abordada a necessidade de utilizar metodologias conjuntas de mineração dos dados para embasar ações envolvendo setores estratégicos de saúde e meio ambiente. 

Um olhar para a saúde

No segundo dia do evento, discutiu-se o impacto do monitoramento da qualidade do ar na saúde da população e o papel desse instrumento para auxiliar entidades de saúde a enfrentarem os efeitos da poluição por fumaça. A mesa contou com a participação de Eliane Ignotti, Coordenadora-Geral de Vigilância em Saúde Ambiental do Ministério da Saúde; Nelzair Araújo Vianna, pesquisadora em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Bahia); e Vanda Witoto, que abordou a interconexão entre a qualidade do ar e a qualidade da água. Vanda destacou como essas questões impactam a vida aquática, afetando os peixes e a flora local, além de prejudicarem diretamente os povos indígenas que habitam a região, sendo estes os mais vulneráveis aos efeitos da fumaça e da poluição do ar. A mediação foi conduzida pela Diretora Executiva do Instituto Ar, Evangelina Araújo, que apresentou a iniciativa Médicos pelo Ar Limpo – rede formada por médicos e associações médicas que tem como objetivo mobilizar e engajar a classe médica na conquista de um ar limpo.

Além disso, instituições como a Environmental Defense Fund e Clean Air Fund discutiram alternativas de financiamento para esses projetos e formas inovadoras de incluir o monitoramento do ar em outras pautas que possuem mais recursos disponíveis. Foi apontado por Sergio Sánchez (EDF) a necessidade de criar um projeto robusto com diferentes atores para buscar diferentes fontes de captação de recursos. O  Instituto Mamirauá apresentou um projeto que pode agregar sensores de baixo custo em tecnologias de monitoramento da biodiversidade, exemplificando que é possível unir ambos os temas para garantir a saúde também da fauna e flora local. A representante do Google, Luisa Phebo, apresentou um caso de sucesso de monitoramento do ar com sensores de baixo custo em uma cidade na Índia. O exemplo foi uma forma de inspirar os representantes locais na elaboração de projetos e novas possibilidades de realizar o monitoramento do ar no Brasil, especialmente na região Amazônica.

Encerramento inspirador e olhar para o futuro

O encerramento do evento ficou a cargo do Professor Irving Foster Brown, pioneiro na utilização de sensores de monitoramento de baixo custo na Amazônia Legal. Com uma fala inspiradora, Brown destacou o progresso e a importância de expandir essa rede de monitoramento para proteger o meio ambiente e a saúde das futuras gerações.

O 2º encontro “Monitoramento do Ar na Amazônia” reforça o compromisso das organizações que estiveram presentes no evento e que visam unir esforços para  a melhoria da qualidade do ar na região. 



Respira Amazônia - Policy Brief - Desafios e perspectivas do monitoramento da qualidade do ar na Amazônia Legal: uma visão integrada entre tecnologias, contextos socioambientais e políticas pública

Entenda como o monitoramento do ar está conectado a proteção da saúde e a preservação da Amazônia