Quais doenças são causadas pela poluição do ar?
A falta de conhecimento da população sobre esse assunto pode indicar muita coisa, entre elas, a ausência de investimento público em pesquisa e divulgação sobre
Por que pensar sobre o ar que respiramos?
Sem o ar que respiramos não existiria música para ouvir, arco-íris para contemplar e chuva para limpar, nutrir e preservar. Até mesmo em relação à geração de energia, o ar cumpre um papel essencial. Por exemplo, os motores a gasolina, diesel ou álcool geram movimento por conta da expansão de gases nos pistões. Isso quer dizer que, sem a mistura com o ar, não haveria a queima de combustíveis fósseis, que movimentam os motores.
Em outras palavras: o ar move o mundo. Sem a camada de atmosfera que envolve o globo, o planeta seria apenas uma grande esfera de rocha. Então, por que subestimamos tanto o impacto da sua contaminação em nossos corpos?
A falta de conhecimento da população sobre esse assunto pode indicar muita coisa, entre elas, a ausência de investimento público em pesquisa e divulgação sobre a qualidade do ar que respiramos. Dessa forma, nesse artigo, você poderá conhecer um pouco sobre os efeitos da poluição atmosférica na nossa saúde e quem são as pessoas mais atingidas por ela.
Além disso, caso você tenha interesse em aprender sobre a origem, história e composição da atmosfera terrestre, indicamos o curta-metragem “Uma fina camada”, dirigido e produzido por André Weissenbach. Ele trata justamente da relevância do ar nas nossas vidas e faz uma viagem pela atmosfera, desde os primeiros anos de vida da Terra. Para assistir e saber mais, clique aqui.
1- Os impactos da poluição do ar na saúde
É importante entender que cada poluente tem um potencial e um impacto diferente na nossa saúde. Esses fatores são determinados pelo nível de exposição humana (o quanto o organismo está em contato com o poluente) e pela toxicidade da substância. Por exemplo, o material particulado (MP) possui substâncias carcinogênicas e está associado ao câncer de pulmão e bexiga, como demonstrado nesse artigo científico.
Segundo a OMS e a OPAS, o contato com poluentes atmosféricos no geral também está ligado a incidência de mortes prematuras, doenças pulmonares, cardiovasculares, acidentes vasculares cerebrais, disposição a diabetes, prejuízo do desenvolvimento cognitivo em crianças, demência em idosos e agravamento da Covid-19.
E não para por aí. A má qualidade do ar pode prejudicar a vida toda de um ser humano, inclusive até antes do seu nascimento. Essa situação é mais comum do que as de desfechos mais graves, porque a mortalidade acaba acontecendo em poucos casos. No próximo tópico, abordaremos com mais detalhes as doenças causadas pelo ar contaminado.
2- O que o ar contaminado pode causar no corpo?
A primeira coisa importante para saber é que o tamanho e o tipo das partículas poluentes inaladas determinam o lugar em que elas são alojadas no corpo. Consequentemente, determina também o tipo de doença que pode se desenvolver. Por exemplo, partículas grandes podem ficar presas no nariz, mas partículas muito finas podem chegar aos pulmões. Nos pulmões, elas se dissolvem e podem ser absorvidas para a corrente sanguínea. Além disso, o grau de exposição ao poluente e sua concentração no ar também são determinantes. A seguir, os principais distúrbios ligados ao ar contaminado:
Pneumonia, asma, bronquiolite e falha no desenvolvimento pulmonar em crianças são algumas das disfunções geradas pelo ar contaminado. Há muitas evidências de que a exposição de uma pessoa grávida a poluentes atmosféricos prejudica a função pulmonar do feto e impede seu amadurecimento, até mesmo a baixos níveis de exposição. Para mais informações sobre a saúde infantil em um contexto de poluição do ar, acesse esse documento da OPAS.
No caso das doenças cardiovasculares, o material particulado deve receber uma atenção maior. Os impactos desse poluente na saúde estão relacionados à mortalidade por doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais. Nesse estudo, por exemplo, percebeu-se uma íntima relação entre mortes de idosos residentes na Amazônia e a qualidade do ar. Esse fato se deve, principalmente, às queimadas na região amazônica.
Além disso, as principais sociedades de cardiologia do mundo também apontam para a qualidade do ar como um fator importante para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Nesse artigo, emitido pela World Heart Federation (WHF), American College of Cardiology (ACC), American Heart Association (AHA) e European Society of Cardiology (ESC) foi declarado com todas as palavras: a poluição do ar agrava a Covid-19 e as doenças cardiovasculares e é preciso que as entidades médicas tomem medidas para diminuir esses efeitos.
Já em 2013 a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) publicou o documento nº 161, reconhecendo a poluição do ar como um fator de risco cancerígeno muito alto, tanto em humanos como em animais. Esse estudo aponta que 19% de todos os cânceres estimados são atribuídos ao meio ambiente, inclusive o ambiente de trabalho, resultando em 1,3 milhões de mortes por ano. Em relação ao câncer infantil, nesse artigo, foi evidenciado o aumento do risco de leucemia em crianças, quando existe contato com poluição do ar originada do tráfego de veículos.
Essa talvez seja a relação mais surpreendente da lista: poluição do ar e diabetes. Um estudo publicado na revista Lancet Planetary, estimou que 1 em cada 7 casos de diabetes é causado pela exposição a poluentes atmosféricos. No nosso site temos um pequeno artigo sobre esse tema, com mais detalhes e referências. Para acessar, clique aqui.
Em relação às doenças neurológicas, já existem amplas evidências que apontam a sua estreita relação com a poluição do ar. Por exemplo, a exposição pré-natal e pós-natal ao ar contaminado pode comprometer o desenvolvimento mental e motor das crianças. Assim, consequentemente, causar prejuízos na cognição e no desempenho acadêmico. É possível também que favoreça o desenvolvimento de transtornos comportamentais, como déficit de atenção e hiperatividade.
Além disso, essa pesquisa realizada com pessoas nos EUA e na Dinamarca, sugere também que regiões poluídas têm mais casos de doenças neurológicas como depressão e transtorno bipolar.
Como mencionado no item 2, relacionado a doenças cardiovasculares, as principais sociedades de cardiologia do mundo reconhecem que a poluição do ar agrava os casos de covid-19. Outras pesquisas foram conduzidas nesse sentido, demonstrando as consequências do contato com poluentes atmosférico em um curto e longo espaço de tempo.
Por exemplo, nesse estudo, foi observado que o aumento da concentração de Material Particulado 2.5 e 10, gerou um crescimento de 2,2% e 1,8%, respectivamente, em novos casos diários de Covid-19. Porém, o resultado foi pior com dióxido de nitrogênio e ozônio. Com o aumento de NO2 e O3, o surgimento de novos casos diários aumentou em, respectivamente, 6,9% e 4,7%. Para saber mais, acesse essa matéria do Le Monde Diplomatique, em que nossa equipe se aprofundou nessa questão.
3. Quem são as pessoas mais afetadas pela poluição do ar?
Todas as doenças mencionadas acima atingem mais determinados grupos. No documento da WRI Brasil, mencionado acima, aponta-se que pessoas inseridas em contextos de vulnerabilidade social têm mais chances de desenvolver esses distúrbios relacionados à poluição do ar. Esses fatores incluem:
Existem também fatores biológicos que favorecem doenças relacionadas à qualidade do ar, como suscetibilidade genética e doenças pré-existentes, especialmente se pertencerem à população de baixa renda. Além disso, bebês ainda no útero, crianças e idosos também compõem esse grupo.
4. Conclusão
Diante de tantos riscos que o ar contaminado promove, precisamos pensar: como chegamos até aqui e o que é preciso fazer para interromper ou, ao menos, postergar o colapso ambiental?
Bom, de uma coisa nós sabemos: o tema da poluição atmosférica ainda está longe de ser reconhecido como primordial para a manutenção da vida na Terra. Portanto, nossa urgência é tornar esse assunto mais presente no debate público, engajar pessoas e, a partir dessa relevância, garantir verba para pesquisa e divulgação científica. Afinal, as pessoas não só precisam, como têm o direito garantido por lei de saber qual é o estado da qualidade do ar do próprio país.
O Instituto Ar é pioneiro em tratar questões ambientais e seus impactos na saúde. Para ler nossas publicações, basta clicar nesse link. Porém, se você quer ler mais artigos simples como esse, clique aqui.
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Poluição agrava a Covid-19 e as doenças cardiovasculares e pulmonares | saúde | ge (globo.com)
Taking a Stand Against Air Pollution—The Impact on Cardiovascular Disease: A Joint Opinion from the World Heart Federation, American College of Cardiology, American Heart Association, and the European Society of Cardiology | Journal of the American College of Cardiology (jacc.org)
Poluição atmosférica pode agravar covid-19, dizem pesquisadores da USP (udop.com.br)
O ar que você respira pode agravar a pandemia – Le Monde Diplomatique
cine experimental / Koyaanisqatsi / (1982) – YouTube
OPASBRA19004_por.pdf (paho.org)
cartilha_poluicao_do_ar_impressao.pdf (inca.gov.br)
Poluição do ar: o surpreendente fator causador de diabetes tipo 2 (coren-df.gov.br)
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Nesse artigo você irá entender o básico sobre qualidade do Ar no Brasil: como é feita a classificação do Ar, qual é a situação atual,
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Feito por Agência+